Monday, March 12, 2007

Benigno Lento




“O Nespereira tem estrutura para estar numa Divisão de Honra!”
BA– Quais são as suas ligações com o Nespereira?
BL– As minhas ligações são desde muito novo, quando vim trabalhar para a Feira Franca, e depois que estive cá liguei– me a família Semblano, onde fiquei durante alguns anos em casa deles e onde me recordo saudosamente do Isidro Semblano.
Naquele tempo, faziam– se uns jogos Feira Franca contra o Maninho– naquela altura chamava– se Maninho, actualmente é Vista Alegre, onde a gente olha cá de baixo e quase que se vê uma vila lá na Vista Alegre. Então nós íamos a pé para o Maninho, jogarmos contra a Vista Alegre, onde haviam jogadores que jogavam pelo Maninho e pela Feira Franca, que era o caso do Isidro Semblano, do Salazar e do Alfredo Galhardo; assim como o Adriano “Moleiro”, a quem, naquele tempo, nós o chamávamos de Muck. E depois vínhamos buscar alguns aqui a Feira, que era o caso do Ricardo Teles, etc.
Pelo Maninho, era claro jogava o Ernesto, o falecido Tonito, o Adriano, que era um excelente guarda redes.
A Vista Alegre foi sempre um viveiro de jogadores de futebol. Foram sempre! Era a coqueluche de jogadores do Nespereira! Então nós no fim de cada jogo, a festa era todos juntos em casa de uma pessoa que eu também estimava muito, que era o senhor Américo “Susana”, que tinha por lá um tasco. Nós no fim, íamos todos para lá merendar. Mas eu as vezes me acanhava, porque alguns diziam que eu era de Macieira…
E é assim a minha ligação com Nespereira, desde novo! Gosto desta gente, gosto desta terra… e depois mais tarde vim treinar o Nespereira, quando foi o Apolinário, o Presidente da Direcção do Nespereira, o Zé Luís, etc. Então mais tarde vim treinar o Nespereira. Claro que, joguei também muitas vezes contra o Nespereira, mesmo na Vista Alegre.
Devo dizer que o jogador que eu tinha mais dificuldade em marcar, visto que a minha posição era defesa direito, médio direito, era o Ernesto Soares. Era um homem muito difícil de se marcar.
Mas como vê, ainda hije estou ligado a todas as pessoas, aos meus amigos, os “Susanas”[família Soares], aos meus amigos Teles, aos Semblanos, e também na Feira Franca no tempo da sua avó, nós éramos como uma família mesmo.
BA– Qual as recordações mais caricatas que tem daquele tempo?
BL– Mas como treinador?
BA– Como treinador e como jogador...
BL– O mais caricato se passava quando era naquele tempo, o futebol a brincar… era bonito! Jogava– se a brincar, sem raiva de uns para os outros. Jogava– se por amor à camisola, por amor às pessoas… havia “fair– play” antigamente! Infelizmente, houve um período em que não houve tanto “fair play”, mas que passou, e actualmente continua a haver “fair play”. As pessoas estão mais formadas, sabem ver futebol e é sempre bom para as equipas de todo o concelho.
Joguei no Fornelos durante muitos anos, optei por fazer um curso de Treinador, treinei várias equipas do concelho, assim como Souselo, Nespereira, Fornelos, o Vila Viçosa, aqui na nossa freguesia vizinha, onde fui campeão. Fui campeão várias vezes pelo Fornelos, e agora estou no desemprego… por questões pessoais.
BA– O que acha do Nespereira do passado e do Nespereira do futuro?
BL– Ora bem… o Nespereira do passado, se calhar– na minha opinião!- tinha os jogadores quase todos daqui da freguesia e era uma equipa diferente. Era uma equipa que jogava bem e tinha bons jogadores, que gostávamos de ver jogar como o Olegário, o Abel, o Quim Susana”, o Alcindo da Padaria, que era um grande central, o senhor Correia, o Salazar, o Alfredo Galhardo, estes mais ou menos, com a minha idade! Eram grandes jogadores!
Em relação ao futebol de hoje, acho que há mais competição… actualmente é mais competitivo que naquele tempo! Naquele tempo o futebol era mais forte, sem treinos às vezes.
O futebol hoje, como costumo dizer, se no meu tempo houvesse o mimo que existe, e que muitas equipas amadoras dão aos seus jogadores, se calhar haveriam muitos jogadores internacionais! No nosso tempo, tinha que se comprar umas chuteiras, as camisolas e as meias… ainda sou do tempo que se jogava com umas chuteiras com uns travessões, que era o sr. Pinto da Feira que fazia esses travessões para que pudéssemos jogar.
Agora é diferente! Há mais evolução no futebol… trabalha– se melhor que naquele tempo… íamos para o campo muitas vezes sem nos treinar, depois quando as equipas começaram a se filiar, começou tudo a ficar diferente.
Ainda me lembro daqueles grandes jogos, quando era miúdo e trabalhava aqui em Nespereira na padaria, e trabalhava com o falecido Isidro que era do irmão, e íamos jogar sem treinar… e engraçado, que íamos a pé, apanhávamos um carreiro pelo monte acima, para a Portelinha, no Maninho. Minto se lhe disser que esse tempo não me deixa saudade, mas fico feliz por ver as coisas muito mais desenvolvidas...
BA– Qual é o jogador do Nespereira que acha que sobressai na equipa actualmente?
BL– Devo dizer que o Nespereira, actualmente tem uma equipa muito compacta, mas há um jogador que está aqui a jogar que eu gostaria de ter em qualquer equipa que treinasse: o Hélder! É um jogador que vê– se que tem formação, que tem escola, e que é um jogador que tem lugar em qualquer equipa superior às nossas divisões. E Nespereira tem muitos jogadores que eu admiro, que é o caso do Nuno Cardoso! Um grande central! Um central, que se calhar,- quando eu o vi jogar muitas vezes no Cinfães– era jogador para estar na III Divisão Nacional. O Pepe também é bom jogador… tem vários jogadores que tem valor! Se calhar faltou– lhes a tal formação que hoje existe no futebol, mas que são jogadores que tem lugar em qualquer equipa da Distrital.
BA– Pensa em algum dia poder vir a treinar o Nespereira?
BL– Ora bem… não é uma coisa que eu não gostasse de fazer… voltar a treinar o Nespereira! Se um dia isso acontecer, com certeza venho para aqui com muito prazer, e o farei tão bem, como faria no Fornelos que é o meu clube… não posso negar que é o meu clube, o clube do meu coração porque fui um dos fundadores, mas com certeza que gostaria de voltar a Nespereira, pois sempre fui muito bem recebido, sempre fui muito bem tratado. As pessoas de Nespereira tratam– me como se eu fosse de Nespereira, apesar de ter aqui bastantes amigos. Gosto muito desta terra, tenho muitos amigos e tenho imensas saudades dos amigos que já foram que é o caso do falecido Isidro, e vou falar num nome que marcou muito: o sr. Alfredo Galhardo, que é uma saudade muito grande! Quase podíamos dizer, que éramos quase como irmãos!
BA– O que acha da estrutura do Nespereira?
BL– O Nespereira tem uma estrutura, desde que eu me lembro, que estou ligado a esta gente, teve sempre uma estrutura óptima, muito melhor que nos tempos antigos, em que se ia para a Vista Alegre, depois que se fez ali o campo no olival. Acho que o Nespereira tem estrutura– atenção que falo em estrutura, não em equipa- para estar na Divisão de Honra! Só que realmente isto é muito difícil, e actualmente não estou metido em nada, mas sei que há dificuldades de questões financeiras. Todos os clubes tem dificuldades de questões financeiras! Hoje quase não se joga por amor à camisola, hoje joga– se pelo prémio, pelo ordenado. Há já equipas que dão ordenados e prémios jeitosos, mas estes não jogam por amor a uma causa nem por amor à camisola.

No comments: